Apesar do barulho da chuva, já de fora podemos ouvir o telefone tocando sem parar lá dentro do estúdio do quadrinista. Então, ao nos aproximarmos, ouvimos mais um som, um “blam”.
No último quadrinho da página, vemos o interior do estúdio. Numa parede está o cartaz com “Li’l Adam, the stupid mountain boy”. Percebemos que alguém acaba de sair apressado. E sobre a prancheta de desenho, está um corpo caído.
Na página seguinte, já estamos na delegacia, na sala do comissário Dolan. Um homem, sr. Matrix, diretor do Knight Feature Syndicate, parece apavorado diante da falta de notícias de sua principal estrela, o quadrinista Al Slapp, publicado em 5.000 jornais e lido por 50 milhões de leitores: “Li’l Adam é uma instituição americana!”. Spirit, já de saída para pescar, diz “Ah, não se preocupe... quem iria querer matar um quadrinista... Ele parece um cara legal... faz as pessoas rirem...”
Matrix conta que não faltam suspeitos: outros quadrinistas e escritores que Al Slapp satirizou a tal ponto que destruiu suas carreiras. E nesse momento chega o corpo de Al Slapp, quase moribundo. Spirit se irrita: a investigação vai fazê-lo perder a pescaria.
Assim começa o episódio de The Spirit chamado “Li’l Adam”, que Will Eisner publicou no dia 20 de julho de 1947. Naquele momento, nenhum leitor norte-americano deixaria de notar que “Li’l Adam” era Li’l Abner e “Al Slapp” (homófono de “tapa” em inglês) era Al Capp. Afinal, não havia quadrinista mais popular que ele nos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, por exemplo, Al Capp recebeu o prêmio de Cartunista do Ano, da National Cartoonists Society. Parecia que ele estava em seu auge, mas, no ano seguinte, criou os Shmoos e subiu ainda mais de patamar.
Confira as duas primeiras páginas da história, na versão publicada na revista Gibi Semanal n. 30, de 21/05/1975: