Por Djamila Ribeiro
Este texto foi publicado originalmente no site da Folha de S. Paulo, reproduzimos aqui um trecho. Você pode conferir na íntegra neste link: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/djamila-ribeiro/2025/10/escrevo-o-que-eu-quero.shtml
Como quem já sofreu muitos ataques por ousar pensar, hoje me nego a ficar falando sobre tudo, posto cada vez menos e guardo minha energia para o que sinto que importa. Também não ocupo mais esse lugar de atendente de demandas das pessoas que se julgam no direito de determinar o que a gente deve falar ou não.
Tenho lido Steve Biko. E, inspirada por ele, ainda chegarei ao momento de dizer: escrevo o que eu quero.
"Escrevo o que Eu Quero", do ativista sul-africano Steve Biko (1946-1977), publicado no Brasil pela editora Veneta, é uma coletânea que reúne textos, artigos e entrevistas de Biko, morto pelo regime do apartheid aos 30 anos, símbolo da resistência negra e fundador do movimento de consciência negra.
Biko concebia essa consciência como estratégia de libertação: um convite para que as pessoas negras deixassem de olhar a si mesmas pelos olhos do colonizador.
Ao afirmar que "a arma mais potente nas mãos do opressor é a mente do oprimido", expôs o núcleo de sua crítica — dirigida tanto aos nacionalistas brancos que sustentavam o apartheid quanto aos setores progressistas brancos que ofereciam uma falsa aliança.
Biko sabia que, para fortalecer a consciência negra, era preciso desenhar rotas de fuga à prisão mental imposta pelo racismo e seguir na busca incessante pela nossa autodeterminação.
Djamila Ribeiro é mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.